JUSTIÇA PROÍBE TAXA DE DISPONIBILIDADE PARA PARTO EM PLANO DE SAÚDE NO
ES
Decisão vale para Unimed de Vitória e
abre precedente favorável aos consumidores
Vitor Sorano - iG São Paulo | 10/09/2013 06:00:03
Getty Images
Segundo promotora, taxa de parto chega a R$ 5 mil
Os médicos e as operadoras de planos de saúde
sofreram uma nova derrota envolvendo a taxa de disponibilidade, exigida por
alguns profissionais para fazer partos. A Unimed de Vitória, a maior do
Espírito Santo, foi obrigada pela Justiça a livrar suas clientes da cobrança
que, segundo o Ministério Público do Estado (MP-ES), chegam a R$ 5 mil.
A decisão liminar (provisória) vale para todas as
clientes da Unimed Vitória e é um importante precedente contra a cobrança, que
persiste apesar de ser proibida pela Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS).
"É uma importante decisão. Evita que cada
particular lesado tenha que contratar advogado para ter resguardado o seu
direito", afirma a advogada Aline Perim, do Perim e Sousa Advogados, de
Vitória.
O MP-ES agora pretende conseguir bloquear a taxa de
disponibilidade para clientes de outras operadoras, o que pode beneficiar
gestantes de outros Estados, afirma a promotora Sandra Lengruber, responsável
pelo processo contra a Unimed Vitória e integrante da Associação do Ministério
Público do Consumidor (MPCon).
"Agora a gente está chamando todos os outros
planos novamente para tentar uma última possibilidade de acordo. Caso não
obtenhamos, iremos propor ações contra os demais", diz Sandra. "Há
médicos que marcavam três partos para o mesmo dia e cobravam pelos três."
Segundo a advogada Tatiana Vilhena, do Vilhena e
Silva Advogados Associados, ainda não há decisões sobre a taxa de
disponibilidade no Tribunal de Justiça de São Paulo – o Estado concentra 37% dos
beneficiários de planos de saúde do País.
"Porém, deve-se considerar abusiva a cobrança
de taxa extra para parto, posto que contraria as disposições do Código de
Defesa do Consumidor", diz.
Plano com parto é
mais caro
Responsável pela liminar, a juíza Rozeana Martins
de Oliveria, da 2ª Vara Cível de Vitória, determinou que as clientes da Unimed
Vitória possam escolher gratuitamente o médico com quem querem realizar o
parto, e serem ressarcidas se houver alguma cobrança.
Rozeana lembrou que as clientes dos planos de saúde
com cobertura de parto já pagam mais caro – de 11% a 15% em média, de acordo
com a faixa etária, segundo com dados da ANS – e que o silêncio dos planos de
saúde sobre a taxa de disponibilidade "coloca o consumidor em uma situação
de precariedade".
"Quando a gestante é cobrada, ela está numa
situação emocional diferente, está preocupada com o estado de saúde seu e do
filho", diz a promotora Sandra. "Recebemos consumidoras que vinham
prestar depoimento e começavam a chorar. A maioria não queria nem falar o nome
do médico [ por medo de represália ]", afirma.
Conselho apóia
cobrança
A taxa de disponibilidade geralmente é exigida
quando as pacientes querem que o parto seja feito por um médico de confiança –
por exemplo, aquele que acompanhou a gestação –, e não por um plantonista. A
cobrança é feita tanto em casos de parto normal quanto de cesariana, segundo a
promotora Sandra.
No início de 2012, o Conselho Federal de Medicina
(CFM) deu sinal verde à prática ao dizer que a taxa de disponibilidade não é
antiética. Entre os argumentos está a "baixa remuneração" dos
médicos, as "condições de trabalho ruins" e a falta de uma
"remuneração de disponibilidade" para que o médico possa acompanhar o
parto de sua paciente feito por um plantonista.
Procurado no fim da tarde desta segunda-feira (9),
o CFM não se pronunciou sobre a decisão da Justiça.
"Já informamos vários casos à ANS", diz
Sandra, do MP-ES, para quem a taxa é ilegal mesmo que esteja prevista em
contrato. " O que foi mencionado [ em audiência
pública da qual participou um representante da agência ] é que a ANS
instauraria procedimento administrativo e que, dali, muito provavelmente,
decorreria aplicação de sanção, multa", disse.
Procurada, a ANS apenas reafirmou a proibição da
cobrança, mas não informou se já houve punições a operadoras em razão da
cobrança.
Associações
desconhecem a prática
As associações de operadoras argumentam que a taxa
de disponibilidade não está prevista na lista obrigatória de procedimentos que
devem ser cobertos por todas as operadoras, o chamado Rol de
Procedimentos.
A Federação Nacional de Saúde Suplementar
(Fenasaúde) – que reúne os 17 grandes grupos do setor – diz ser
contrária a toda cobrança "que não esteja prevista em contrato
ou esteja em desacordo com a legislação e regulamentação vigente".
A Associação Brasileira de Medicina de Grupo
(Abramge) – grupo de operadoras menores, mas do qual também faz parte o Grupo
Amil, o maior do setor – e a União Nacional das Instituições de Autogestão em
Saúde (Unidas) – representante pelos planos fechados (como os de sindicatos) –
informam desconhecer a prática.
A Unimed de Vitória não quis comentar a decisão
judicial.